FÁBRICA DA SUZANO CELULOSE NO PIAUÍ
ESTOU REPASSANDO O Documento informativo DO SR: RICARDO CARRERE Dez respostas a dez mentiras PUBLICADO PELO Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais, COM O INTUITO DE ALERTAR AO MAIOR NUMERO POSSÍVEL DE PESSOAS A RESPEITO DO QUE PODERÁ ACONTECER NO FUTURO PRÓXIMO.
CONFORME MATÉRIA ABAIXO:
A fábrica da Suzano, a ser instalada no Piauí não vai produzir papel, mas somente a celulose com destino para o mercado externo. A perspectiva é que sejam produzidos 1,3 mil toneladas de celulose por ano na fábrica do Piauí. Todo este material será exportado...
Dez respostas a dez mentiras
Ricardo Carrere
Plantar árvores pode ser uma coisa muito boa, mas também pode ser muito ruim. Dependedo objetivo, da escala, do lugar de instalação e dos benefícios ou prejuízos que isso traz às comunidades locais.
As plantações em grande escala de espécies de rápido crescimento, como eucaliptos e pinheiros, são as que produzem maiores impactos negativos, tanto a nível social quanto ambiental. Devido a tais impactos, esse tipo de plantação tem dado lugar a lutas generalizadas em contra. A resposta das empresas plantadoras e dos promotores que impulsam esse modelo consiste em negar a ocorrência desses impactos e em elaborar e divulgar uma enganosa propaganda destinada a obter o apoio dos setores desinformados da população. Entre as muitas falsidades espalhadas, favoráveis às monoculturas florestais em grande escala, encontram-se as seguintes 10:
Mentira 1:
As plantações florestais são “florestas plantadas”
Tanto os técnicos quanto as empresas insistem em chamar as plantações de “florestas plantadas”. Essa confusão entre um cultivo (de árvores) e uma floresta é o ponto de partida da propaganda a favor das plantações. Num mundo consciente do grave problema do desmatamento, a atividade de “plantar florestas” é percebida, geralmente, como uma coisa positiva. Não obstante, uma plantação não é uma floresta, e o único que elas têm em comum é que, nas duas, predominam as árvores. Aí acaba a semelhança.
Uma floresta tem:
•numerosas espécies de árvores e arbustos de todas as idades
•uma grande quantidade de outras espécies vegetais, tanto no solo quanto sobre as próprias árvores e arbustos (trepadeiras, epífitas, parasitas, etc.)
•uma enorme variedade de espécies de fauna que aí encontram abrigo, alimentos e possibilidades de reprodução
Essa diversidade de flora e de fauna interage com outros elementos, como os nutrientes do solo, a água, a energia solar e o clima, de modo a assegurar a sua auto-regeneração e a conservação de todos os elementos que a compõem (flora, fauna, água, solo).
As comunidades humanas também fazem parte das florestas, pois muitos povos as habitam, interagem com elas e ali obtêm um conjunto de bens e serviços que garantem a sua sobrevivência.
Diversamente da floresta, uma plantação comercial em grande escala está constituída por:
•uma ou poucas espécies de árvores de rápido crescimento, plantadas em blocos homogêneos da mesma idade
•pouquíssimas espécies de flora e fauna que conseguem se instalar nas plantações
As plantações comerciais requerem preparação do solo, seleção de plantas de rápido crescimiento e com as carácter´siticas tecnológicas requeridas pela indústria, fertiliza.ão, eliminação da “mata brava” com herbicidas, plantio com espaçamento regular, colheita en intervalos curtos de tempo.
Por outro lado, as comunidades humanas não só não habitam as plantações comerciais, mas também, geralmente, sequer lhes é permitido o acesso, pois elas são consideradas um perigo para as mesmas. No melhor dos casos, elas são percebidas como fornecedoras de mão-de-obra barata, para o plantio das árvores e a colheita que será realizada anos depois.
Como, além disso, o objetivo é produzir e colher grandes volumes de madeira no menor tempo possível, pode-se dizer que ela tem as mesmas características que qualquer outro cultivo agrícola. Portanto, não se trata duma “floresta”, mas, sim, dum cultivo, como é freqüentemente admitido pelas próprias empresas plantadoras ao serem perguntadas a esse respeito.
Em síntese, uma plantação não é uma “floresta plantada”, pois, além do que já foi dito, é evidente que não é possível plantar nem a diversidade de flora e fauna que caracteriza uma floresta, nem o conjunto de interações com os elementos vivos e inorgânicos que acontecem numa floresta.
Mentira 2:
As plantações florestais melhoram o meio ambiente
Apresentadas como “florestas plantadas”, argumenta-se que as plantações servem para proteger e melhorar os solos, regular o ciclo hidrológico e conservar a flora e a fauna locais. Tudo isso é verdadeiro no caso das florestas, mas não no das plantações. Com efeito, as plantações em grande escala não só não melhoram o meio ambiente, mas também provocam impactos negativos:
1) Nos solos. Esse tipo de plantio tende a degradar os solos, pela conjunção duma série de fatores:
•erosão, especialmente, porque o solo fica descoberto tanto nos dois primeiros anos posteriores ao plantio, quanto nos 2 anos posteriores à colheita, o que facilita a ação erosiva da água e do vento
•perda de nutrientes, tanto pela erosão, quanto pelos elevados vo-lumes de madeira extraídos do lugar cada poucos anos
•desequilíbrios na reciclagem de nutrientes. Em se tratando de es-pécies exóticas, os organismos decomponentes locais encontram grandes dificuldades para decompor a matéria orgânica que cai das árvores (folhas, galhos, frutos), fazendo com que os nutrientes que caem no chão demorem muito em poder voltar a ser reutilizados pelas árvores. Tanto no caso dos pinheiros quanto dos eucaliptos, é comum observar como se acumula, sem se decompor, a folhagem sobre o solo
•compactação, pelo uso de maquinaria pesada, o que dificulta a penetração da água de chuva e facilita a erosão
•difícil reconversão. Do conjunto desses e de outros impactos, segue-se que, em muitos casos, será muito difícil poder voltar a utilizar esses solos para a agricultura.
2) Na água. Esse elemento vital é afetado tanto em quantidade quanto em qualidade:
•quanto à bacia, depois da instalação dessas plantações, o volume de água disponível tende a diminuir. Em realidades tão diferentes quanto o sul do Chile, o estado do Espírito Santo, no Brasil, a África do Sul e a Tailândia, constata-se que o regime hídrico sofre mudanças negativas importantes, resultantes do plantio de pinheiros e eucaliptos de rápido crescimento em grandes áreas. Isso é produto de vários fatores, mas o principal é o elevado consumo de água dessas espécies. Para crescer, os vegetais levam os nutrientes do solo até as folhas, onde acontece a fotossíntese. O meio para levar os nutrientes até a folha é a água. Para crescer mais, são necessários mais nutrientes, o que significa maior uso de água para transportá-los até as folhas. Em se tratando de extensas plantações, crescendo a um ritmo muito acelerado, os impactos na água tornam-se sempre mais graves, chegando, até, à desaparição de mananciais e cursos de água.
•para confundir, os promotores das plantações argumentam que algumas espécies de árvores (em especial, os eucaliptos) produzem mais biomassa por unidade de água empregada, e que, portanto, são mais “eficientes” do que as árvores nativas. Contudo, eles não levam em conta que as plantações de eucaliptos são, visivelmente, “ineficientes” na produção de alimentos, forragem, remédios, fibras vegetais, frutos, fungos e outros produtos que a população local obtém nas florestas. Além disso, é irrelevante estabelecer a eficiência duma plantação de eucaliptos para produzir madeira com uma determinada quantidade de água se, de qualquer forma, ela emprega mais água daquela que a área pode produzir.
•as espécies mormente empregadas nas plantações (eucaliptos e pinhei-ros) dificultam a infiltração da água no solo, o que, somado ao enorme consumo de água, agrava os impactos a nível de bacia.
•a qualidade da água vê-se, também, afetada, tanto pela erosão quanto pelo uso generalizado de agroquímicos, que a contaminam.
3) Na flora. Os impactos na flora local são múltiplos e graves, devido à grande escala dessas plantações, que atingem uma enorme quantidade de hábitats:
•em muitos casos, as plantações constituem um fator de desmatamento, pois a sua instalação é precedida pelo corte ou queima da floresta preexistente, como acontece freqüentemente em regiões tropicais e, em especial, na Indonésia. Nesses casos, o impacto é enorme
•na zona temperada, a flora do ecossistema de pradaria diminui em abun-dância e riqueza, quando, sobre ela, são instaladas plantações
•na área ocupada pela plantação, grande parte da flora local é exterminada, para evitar que compita com as árvores plantadas, e somente algumas poucas espécies conseguem se instalar no âmago das plantações. Mas, até essas poucas espécies, são eliminadas cada poucos anos, quando a plantação é cortada e replantada, recorrendo, mais uma vez, à aplicação de herbicidas para eliminar a concorrência
•entre a flora que desaparece no âmago da plantação, é importante destacar, muito especialmente, a flora do solo, que cumpre uma função essencial na conservação da fertilidade do solo a longo prazo
•o impacto na água, acima mencionado, também atinge a flora local, mesmo ela se encontrando a muita distância do local da plantação
4) Na fauna. Os impactos na fauna
•para a maioria das espécies da fauna local, as plantações são desertos alimentares, motivo pelo qual elas tendem a desaparecer. As raras espécies que conseguem se adaptar são exterminadas (por serem consideradas “uma praga” para a plantação), ou, então, assistem à desaparição de seu novo hábitat, toda vez que a plantação é cortada para a venda da madeira.
•quando a plantação é precedida pelo desmatamento, o impacto na fauna local é máximo
•assim como no caso da flora, tanto o desmatamento prévio ao plantio quanto as mudanças na água e no solo afetam negativamente um amplo espectro de espécies da fauna
•os desequilíbrios biológicos provocados por essas plantações dão lugar, freqüentemente, ao surgimento de pragas que afetam as produções agropecuárias vizinhas.
Mentira 3:
As plantações servem para aliviar a pressão sobre as florestas
O argumento é que, pelo fato de existir mais madeira disponível a partir das plantações, haveria uma menor extração de madeira nas florestas nativas. Embora isso possa parecer lógico, na realidade constatou-se que as plantações são, em geral, mais um fator de desmatamento, pois:
•em muitos países, as plantações são instaladas, eliminando previamente a floresta existente. Nalguns casos, essa eliminação é efetuada por meio de gigantescas queimas provocadas, enquanto, noutros, o corte da floresta e a venda da madeira servem para financiar a plantação. Dá-se o caso, também, da plantação justificar o desmatamento, pois argumenta-se que o corte de grandes áreas não constitui desmatamento, se seguido do plantio de árvores. Nalguns casos, o simples anúncio do interesse das empresas plantadoras, por investir numa determinada região, provoca um movimento especulativo, que consiste em adquirir e degradar rapidamente áreas de floresta, para possibilitar que as mesmas possam, depois, ser destinadas ao plantio de árvores por essas mesmas empresas.
•em numerosos casos, o processo acima mencionado determina a migração (voluntária ou forçada) dos moradores da região, os quais são obrigados a ingressar noutras regiões florestais, onde iniciam um processo de desmatamento, para poder satisfazer as suas necessidades básicas. Isto é, nesses casos, o desmatamento provocado pela plantação é duplo.
.a madeira produzida nas plantações não substitui, de forma alguma, as valiosas espécies da floresta tropical, pois as duas têm mercados diferentes. Enquanto a maior parte da madeira da plantação destina-se à produção de papel e produtos de madeira de baixa qualidade, a maior parte da madeira extraída das florestas (especialmente, tropicais) é transformada em produtos de alta qualidade.
•além disso, esse argumento ignora o fato do consumo de madeira não constituir a única causa de desmatamento. Numerosas áreas de floresta são freqüentemente eliminadas, para destinar o solo a cultivos de exportação ou à pecuária extensiva; outras desaparecem sob gigantescas represas hidroelétricas; os mangues são eliminados, para destinar a área à produção industrial de camarão; a exploração petroleira e mineira destrói grandes regiões florestais, etc. Nenhum desses processos destrutivos diz respeito à maior ou menor área destinada a monoculturas florestais, motivo pelo qual é evidentemente falso que, nesse caso, possam “aliviar a pressão” sobre as florestas.
Decididamente, apesar do crescente auge das plantações florestais, a área florestal do planeta continua diminuindo, o que demonstra que o pretenso alívio da pressão sobre as florestas não é senão um exercício de propaganda interesseira.
Mentira 4:
As plantações permitem aproveitar e melhorar terras degradadas
Esse argumento, promovido pelas grandes empresas plantadoras, é, no seu caso, absolutamente falso, pois as plantações comerciais em grande escala dificilmente são instaladas em terras degradadas. O motivo é muito simples: nesse tipo de solos, as árvores não crescem bem, motivo pelo qual plantar aí não é rentável.
Mas ainda é necessário esclarecer alguns aspectos, pois essa questão toda tende a ser muito confusa. Com efeito, deve-se esclarecer o que se entende por “terras degradadas”, e igualmente ressaltar que alguns tipos de plantações não comerciais realizam-se, efetivamente, em terras degradadas, e conseguem melhora-las.
Para o comun das pessoas, a expressão “terra degradada” sugere uma visão típicamente lunar, com solos gravemente erodidos e escassa ou nula vegetação. Nesse casos, qualquer atividade que vise a recuperação desses solos, seja através do plantio de árvores, ou por outros meios, pode ser considerada essencialmente positiva. Contudo, a expressão “terra degradada” pode designar, simplesmente, uma região de floresta que foi cortada, ou uma região agrícola de subsistência, que conservam o seu potencial produtivo. Costuma-se falar, também, de “terras subutilizadas”, como sinônimo de degradadas. Em síntese, as empresas plantadoras são as que determinam se a terra está degradada ou subutilizada, e, desse modo justificam as suas plantações perante a opinião pública. Não obstante, os moradores locais, geralmente,não concordam nem com o fato da terra estar degradada ou subutilizada, nem, menos ainda, com o fato dela ter que ser plantada com eucaliptos, pinheiros ou outras espécies comerciais. Em miutos casos, isso é o que motiva a resistência dos moradores locais à avalanche plantadora, que tenta se apropriar de terras que são produtivas, e não “degradadas” nem “subutilizadas”.
Em segundo lugar, não pode ser aceita a presunção da plantação comercial em grande escala de eucaliptos ou pinheiros ter a mesma capacidade de reabilitação de terras degradadas daquela que têm as plantações em menor escala de espécies forrageiras, alimentares, produtoras de lenha para o abastecimento da população local, ou fixadoras de nitrogênio.
Mentira 5:
As plantações servem para conter o efeito estufa
Esse é um dos argumentos recentemente em voga. Afirma-se que, ao crescerem, as árvores vão tomando carbono em quantidades superiores às emitidas, de modo que apresentam um saldo neto positivo em relação à quantidade de bióxido de carbono (o principal gás de efeito estufa) na atmosfera. Contudo, as plantações florestais ainda devem demonstrar que são sumidouros de carbono.
Em termos gerais, qualquer área coberta de plantações, na ausência de provas contrárias, deveria ser considerada uma fonte neta de carbono, e não um sumidouro. Em primeiro lugar, porque, em muitos casos, essas plantações substituem as florestas, o que determina que o volume de carbono liberado pelo desmatamento seja superior àquele que a plantação em crescimento pode capturar, inclusive a longo prazo. Mesmo quando não há desmatamento, elas são instaladas noutros ecossistemas que também armazenam carbono (como as pradarias), o qual é liberado na atmosfera como conseqüência da plantação. Além disso, existe uma segunda questão crucial: essas plantações serão colhidas, ou não? Em caso de acontecer a primeira hipótese, elas seriam, no melhor dos casos, tão só sumidouros temporários: o carbono é armazenado até a colheita, para, depois, ser liberado em poucos anos (nalguns casos, inclusive, em meses), quando o papel ou outros produtos derivados das plantações são destruídos. No caso das árvores não serem colhidas, as plantações estariam ocupando milhões e milhões de hectares, que poderiam ser usados para fins bem mais proveitosos, como a produção de alimentos.
Isto é, existem muitas incertezas acerca da suposição das plantações serem, em todo lugar, sumidouros de carbono por um lapso superior ao período primeiro de rápido crescimento, em virtude de que elas podem não sê-lo, sequer, nesse período. Essa suposição de “senso comum” tem que ser referendada por pesquisas, antes das plantações serem aceitas, sem mais, como sumidouros de carbono.
Finalmente, é essencial focalizar a questão em sua total dimensão e analisar o conjunto de impactos que a promoção de grandes monoculturas florestais com espécies de rápido crescimento pode provocar noutras áreas ambientais e sociais. Cientes do fato dessas plantações estarem causando impactos no ambiente (solos, água, flora e fauna) e nas comunidades locais, não é aceitável que sejam promovidas com um propósito “ambiental” como o de conter o efeito estufa. A solução terá de acontecer através da redução das emissões de CO2 (resultantes do uso de combustíveis fósseis) e da proteção das florestas, e não através de tentativas de colonizar enormes áreas de terra, sem ter analisado plenamente as conseqüências.
Mentira 6:
As plantações são necessárias para satisfazer um crescente consumo de papel
O consumo de papel é percebido, geralmente, como uma coisa positiva, ligada à alfabetização, ao acesso à informação escrita e a uma maior qualidade de vida. Essa percepção do público é usada pelas empresas plantadoras, para justificar a suposta necessidade de aumento da produção de celulose a partir de suas extensas plantações de pinheiros e eucaliptos. Portanto, essa questão exige vários esclarecimentos:
•Grande parte da celulose produzida no sul não se destina ao abastecimento da população desses países, mas, sim, aos consumidores do norte. Enquanto os Estados Unidos e o Japão têm um consumo anual de papel per capita de mais de 330 e 230 quilos, respectivamente, países exportadores de celulose, como o Chile, a África do Sul, o Brasil e a Indonésia, mostram um consumo per capita de 42, 38, 28 e 10 quilos, respectivamente
•Em torno de 40% do papel produzido no mundo é usado em embalagem e envoltório, ao passo que só 30% destina-se a papeis de escrita e impressão, motivo pelo qual o argumento da alfabetização não é tão relevante quanto se pretende mostrar
•além disso, grande parte do consumo de papel de escrita e impressão vai para a publicidade. Nos Estados Unidos, 60% do espaço de revistas e jornais fica reservado para anúncios, ao passo que, anualmente, são produzidos uns 52.000 milhões de unidades de diversos tipos de material de publicidade, incluídos 14.000 milhões de catálogos para compras pelo correio, os quais, amiúde, vão parar diretamente na lata do lixo. Esse tipo de consumo excessivo de papel não é exclusivo dos Estados Unidos; também é característico da maioria dos países do norte, e, inclusive, pretende-se exportar esse modelo aos países do sul.
A questão consiste, então, em que o consumo atual de papel é ambientalmente insustentável, e em que grande parte do mesmo é socialmente desnecessário. Portanto, nem os planos de uso das florestas, nem os planos de expansão das plantações florestais, podem pretender se auto-justificar, alegando que “a humanidade” necessita de mais papel.
Mentira 7:
As plantações são muito mais produtivas do que as florestas
Esse argumento pode parecer convincente se for observado o rápido crescimento das árvores numa plantação de pinheiros ou eucaliptos. Porém, depende do que se entende por “produtivo”, e de quem é beneficiado com essa produção.
Uma plantação comercial produz um grande volume de madeira para a indústria, por hectare e por ano. Mas isso é tudo quanto produz. O beneficiário direto dessa produção é a empresa proprietária da plantação.
Uma floresta não produz somente (como a plantação) madeira para o mercado; a sua produção abrange outros tipos de árvores, vegetais, animais, frutas, fungos, mel, forragem, adubo, lenha, madeiras para usos locais, fibras vegetais, remédios, e, além disso, gera uma série de serviços em matéria de conservação de solos, biodiversidade, recursos hídricos e microclima.
Quando se argumenta que as plantações são muito mais produtivas do que as florestas, somente se compara o volume de madeira para a indústria que pode ser extraído delas, e, nessa comparação, a plantação aparece como sendo superior.
Não obstante, quando se compara a totalidade de bens e serviços fornecidos pela plantação e pela floresta, comprova-se que esta é muito mais produtiva do que a plantação. E mais: em muitos aspectos, a produção da plantação é nula (por exemplo, na produção de alimentos, de remédios ou de forragem), podendo, até, ser negativa, quando afeta outros recursos, como a água, a biodiversidade ou o solo.
Em especial, isso torna-se evidente para aquelas comunidades locais que sofrem os efeitos da implantação de extensas monoculturas florestais, pois suportam a perda da maior parte dos recursos que, até então, garantiam a sua sobrevivência. Para elas, a produtividade dessas plantações é nula, ou, melhor dizendo, de índole negativa.
Mentira 8:
As plantações geram emprego
Esse é, também, um argumento típico entre aqueles que promovem as plantações. Porém, na maioria dos casos, essa afirmação é totalmente falsa.
As grandes plantações geram emprego direto, fundamentalmente, nas fases de plantio e de colheita. Depois do plantio, o emprego cai substancialmente. No momento da colheita, a plantação necessita novamente de contratação de mão-de-obra, mas o número de vagas tende a diminuir visivelmente, pela crescente mecanização dessa operação.
Os escassos empregos gerados são, em geral, de muito baixa qualidade, sendo, na maioria das vezes, de caráter temporário, com baixos salários e em condições de trabalho caracterizadas pela má alimentação, o alojamento inadequado e o incumprimento da legislação trabalhista em vigor. Os acidentes e as doenças de trabalho são freqüentes. O modelo dominante no sul é aquele em que as empresas plantadoras subcontratam empresas informais, para a realização das tarefas de plantio e colheita. Em virtude do escasso investimento exigido, a concorrência entre essas empresas informais baseia-se, fundamentalmente, na redução do custo de mão-de-obra, fato que explica as péssimas condições salariais e de trabalho dos trabalhadores florestais. Somente nos casos em que a colheita é realizada com moderna e custosa maquinaria florestal, essas tarefas são feitas pela empresa plantadora, que, então, sente-se na obrigação de oferecer melhores condições de trabalho.
Em muitos países, tendem, simultaneamente, a privar os antigos ocupantes da terra de suas anteriores fontes de trabalho. É comum que essas plantações sejam instaladas em terras destinadas à agricultura de subsistência, motivo pelo qual, inclusive, a tendência do emprego neto é, em muitos casos, negativa. Por outro lado, quando a sua instalação envolve a prévia destruição da floresta, os moradores locais ficam privados duma série de atividades e fontes de renda que dependem dos recursos fornecidos pela floresta. Em quase todos os casos, as plantações trazem como resultado a expulsão da população local, que se dirige, principalmente, aos cinturões de miséria das cidades.
No mundo inteiro é possível constatar que as plantações geram muito menos emprego que a agricultura e até menos que a criação de gado extensiva. Em relação ao emprego industrial, as plantações nem sempre dão lugar à criação de indústrias locais, em virtude da produção, em muitos casos, estar voltada para a exportação direta dos troncos sem processar. Mesmo quando são abertas indústrias de polpa e papel, seu alto grau de mecanização resulta na criação de poucas vagas.
De todas as atividades capazes de gerar emprego a nível local, a atividade plantadora é, provavelmente, a pior opção. O objetivo das empresas florestais não consiste na geração de emprego, mas, sim, na geração de lucros para seus acionistas. Não obstante, valem-se desse falso argumento, para justificar socialmente seu empreendimento.
Mentira 9:
Os possíveis impactos negativos das monoculturas florestais industriais podem ser evitados ou mitigados com um bom gerenciamento
Em última instância, os promotores das plantações podem aceitar que elas não são florestas e que podem causar impactos negativos, mas acrescentam que esses impactos acontecem devido a um mau gerenciamento, e não às próprias plantações. A solução -afirmam- é, pois, técnica: aplicar bons métodos de gerenciamento.
Todavia, não se trata duma questão técnica, mas, sim, duma questão essencialmente política, de poder, com beneficiários e prejudicados. Nos centros do poder, são tomadas as decisões que afetam a vida e as possibilidades de sobrevivência das comunidades locais e condicionam fortemente as decisões dos governos, com o objetivo de prover o mercado global dos produtos madeireiros que ele requer. As necessidades e as aspirações locais não contam. Daí resultam os principais problemas acarretados por esse tipo de plantação. É evidente que isso não se resolve com um “bom gerenciamento”. E mais: o bom gerenciamento das empresas plantadoras consiste, em primeiro lugar, em convencer o governo de que lhes permita investir em determinadas regiões do país, de que lhes conceda determinadas vantagens (subsídios diretos e indiretos), e de que intervenha, em caso de necessidade, para despejar ou reprimir os moradores locais. Em grande número de casos, as diferentes formas de pressão ou repressão constituem a principal ferramenta de “bom gerenciamento” para resolver os conflitos sociais gerados pelas plantações.
No que diz respeito aos impactos ambientais provocados pelas plantações comerciais, também é utópico pretender que eles possam ser resolvidos através dum bom gerenciamento técnico. As próprias características do modelo fazem com que ele seja, basicamente, insustentável, mesmo adotando práticas conservacionistas, ou fazendo monitorizações destinadas, também, em grande medida, a melhorar a imagem da empresa diante dos possíveis opositores ambientalistas. Com efeito, o modelo se caracteriza:
•pela grande escala. Não é igual o impacto ambiental que pode provocar um eucalipto ou um pinheiro, aos impactos que provocam dezenas ou centenas de milhares de hectares concentrados em determinada região dum país. A alteração do espaço geográfico é enorme. Para dissimular esse fato, os promotores das plantações insistem, atualmente, em usar percentagens, dizendo que “só ocupam 1 ou 2% da área total do país”. Porém, não se pode tampar o sol com a peneira. A verdade é que se trata de grandes concentrações de monoculturas florestais, e o único “bom gerenciamento” possível é, justamente, reduzir a questão a percentagens.
.pela monocultura de espécies exóticas. Embora seja verdade que a maioria das espécies agrícolas são exóticas, no caso das espécies usadas nos cultivos florestais, isso envolve fortes implicações negativas. A escolha dessas espécies tem origem, em parte, na inexistência de pragas e doenças, nos países onde elas são introduzidas, que possam afetá-las. Embora isso seja totalmente lógico para o plantador, é um problema para a fauna local, para a qual essas plantações constituem um deserto alimentar. Somado à questão da grande escala, o impacto, principalmente, na fauna, é, em conseqüência, enorme. A biodiversidade do solo vê-se gravemente afetada, devido a que os restos vegetais dos pinheiros e eucaliptos são tóxicos para grande parte da flora e da fauna do solo. Além disso, o sistema apresenta uma grande debilidade intrínseca, pois, se surgir uma espécie capaz de se alimentar das árvores vivas, se transformará numa praga, que poderá pôr em risco todas as plantações similares da região.
•pela rapidez do crescimento. A lógica empresarial desses empreendimentos faz com que a rapidez de crescimento seja essencial para garantir a rentabilidade do investimento. Esse crescimento baseia-se, em parte, na seleção de espécies, mas, também, na utilização de fertilizantes e herbicidas (que afetam o solo e a água), e num consumo enorme de água, que afeta a região como um todo. Como se não bastasse, a biotecnologia florestal encaminha-se, também, nessa direção, criando “super-árvores” de crescimento ainda mais acelerado e resistentes aos herbicidas, motivo pelo qual o impacto é duplo: maior contaminação, pelo uso de agroquímicos, e maior consumo de água.
•pelo corte em intervalos curtos de tempo. A mesma lógica determina que as árvores sejam cortadas cada poucos anos, o que pressupõe uma grande saída de nutrientes do sistema, processos de erosão, e a destruição do hábitat daquelas poucas espécies locais que estavam conseguindo se adaptar à plantação.
Diante das razões expostas, é evidente que são poucas as medidas técnicas que podem ser tomadas para evitar ou mitigar a maioria dos impactos ambientais causados pelas plantações. Embora possam ser melhorados alguns aspectos (usar agroquímicos menos nocivos, preparar o solo seguindo curvas de nível, precaver-se para que não surjam processos de erosão no momento de cortar as árvores, conservar áreas silvestres como remendos na paisagem, monitorar solos, água, flora e fauna, etc.), a verdade é que é impossível evitar os impactos, porque o próprio modelo não permite: não é possível (do ponto de vista da rentabilidade) fazer com que as árvores cresçam mais devagar, consumam menos água, prescindam de fertilizantes, não afetem os solos, não restrinjam a biodiversidade local. Em síntese, o problema é o modelo, e não a adoção de medidas de gerenciamento apropriadas.
Mentira 10:
As plantações não podem ser julgadas isoladamente
Esse é um dos argumentos dos promotores das plantações surgidos recentemente. Eles afirmam que existe um “sistema contínuo” entre uma floresta primária e uma “floresta plantada”, voltada para a produção de madeira. Isso significa que haveria um sistema, denominado por eles “floresta”, que incluiria florestas primárias protegidas, florestas de produção, florestas protetoras, florestas secundárias e plantações de todo tipo. Portanto, dizem que esse sistema “floresta” deve ser analisado na sua totalidade, não se concentrando somente num único componente: a monocultura florestal em grande escala. O argumento é inteligente, mas não menos falso do que os anteriores.
Em primeiro lugar, porque parte da falsa premissa de que uma plantação é uma floresta. O tipo de plantação ao qual aludimos constitui um cultivo voltado para a produção de grandes volumes de madeira no curto prazo, cuja única semelhança com uma floresta consiste em estar constituído por árvores que, nem sequer, são nativas. Portanto, não é possível falar dum “sistema contínuo” entre elementos intrinsecamente diferentes. Seria como dizer que a fauna nativa e a criação de gado de curral constituem um sistema contínuo entre o natural e aquilo voltado para a produção de leite, e que não é possível julgar isoladamente os impactos da pecuária de curral, sem analisá-los nesse contexto.
Em segundo lugar, porque, em geral, as plantações comerciais não só não complementam as florestas, mas também, em muitos casos, são causa direta ou indireta de desmatamento. O mesmo pode ser dito quanto à forma como afetam a biodiversidade, o solo, a água, e, especialmente, as comunidades locais.
Em definitivo, esse raciocínio pretende justificar a destruição da natureza em determinada área, argumentando que sua conservação se garante em outra área. Ao incluir as plantações nesse presumível sistema “floresta”, se encobre e justifica a destruição social e ambiental gerada a partir das monoculturas de árvores em grande escala. Perante os impactos sobre a biodiversidade, a resposta que os criadores dessa mentira consistirá em dizer que ela se garante pela existência de áreas protegidas...apesar de que estejam separadas por centenas de quilômetros. Dirão o mesmo a respeito do regime hidrológico ...apesar de que as plantações estejam em bacias diferentes. Não falarão do assunto do solo ... porque não têm argumentos e lançarão mão da alegação da geração de emprego (Mentira 8) para encobrir os impactos sociais das plantações, que também evidenciam a diferença entre uma floresta (onde vivem pessoas) e uma plantação (onde as pessoas são expulsas).
A questão de fundo é que esse argumento pretende justificar uma lógica que divide a produção da conservação; ainda mais, que utiliza a conservação como um pretexto para habilitar a destruição. A existência de áreas protegidas de florestas (que efetivamente protegem o solo, a flora, a fauna e regulam o ciclo hidrológico), transforma-se na justificação para implementar grandes monoculturas (neste caso, de árvores), que destroem todos os recursos naturais e os direitos e meios de vida dos povos locais.
Como a única forma de garantir a sustentabilidade social e ambiental consiste em incorporar a conservação aos processos produtivos (e não em separá-los em compartimentos independentes), essas monoculturas de árvores não podem de jeito nenhum serem consideradas como parte do sistema da floresta, e portanto, seus impactos devem ser analisados separadamente, como com qualquer outro cultivo agrícola.
Para informações adicionais ou entrevistas, entre em contato com:
*Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais *
*Secretariado Internacional*
*Tel: + 598 2 4132989*
*Fax: + 598 2 4100985*
*wrm@wrm.org.uy*
*www.wrm.org.uy*
EDILMAR LEÃO
TÉCNICO AGRÍCOLA
EMPRETEC/2004
GUARULHOS/SP
leaosantos@itelefonica.com.br
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