Agricultura familiar é modelo de desenvolvimento
Da Redação
Agência Pará
O desenvolvimento de um modelo sustentável de agricultura familiar cria um cenário favorável para produtores e consumidores paraenses. Se de um lado ganha força a valorização dos produtos livres de agrotóxicos, de outro, cresce a demanda no mercado por produtos de qualidade e ecologicamente corretos.
Neste cenário de oportunidades, a qualidade de vida e a preservação do meio ambiente tornaram-se estratégias viáveis já em fase de consolidação em vários municípios do Pará. É o caso dos municípios de São Domingos do Capim, Abaetetuba, Santo Antônio do Tauá, São João de Pirabas e a Região Metropolitana de Belém, dentre outras localidades, onde o segmento agroecológico de hortifrutigranjeiros avançou.
O que já existe de concreto na linha de produção sustentável paraense será um dos atrativos do Frutal Amazônia e Floral 2008, que acontecem em Belém de 26 a 29 de junho, no Hangar – Centro de Convenções da Amazônia & Feiras da Amazônia. A exposição de frutas e flores terá cerca de 300 estandes.
São produtores como Pedro Ferreira Araújo, 52 anos, de São Domingos do Capim, região do Guamá, que exemplificam este momento de mudança. “Fiz um curso de capacitação e passei a aplicar técnicas que respeitam o meio ambiente. A derrubada da floresta não é a solução nem o uso exagerado de pesticidas garantia de qualidade”, diz.
Ele é apenas um dos milhares de trabalhadores rurais da cadeia produtiva familiar do Estado que estão na mira dos incentivos federal e estadual. Um investimento de R$ 1,2 bilhão vai beneficiar a agricultura familiar em 57 municípios paraenses ainda em 2008.
Foi estabelecendo a harmonia entre os princípios de produtividade, rentabilidade e qualidade do produto, que agricultores como o Pedro Araújo conseguiram cultivar a terra sem derrubar a floresta. “Minha produção tem destino certo. Redes de supermercados estão interessadas nas minhas frutas que não têm nenhum tipo de agrotóxico. O nível de conscientização das pessoas está mudando”, avalia o produtor, que em uma propriedade de 66 hectares, cultiva açaí, cacau, cupuaçu e banana com técnicas de compostagem e adubação orgânica.
Para o engenheiro agrônomo Raimundo Ribeiro, assessor de desenvolvimento organizacional da Empresa de Assistência e Extensão Rural do Pará (Emater), pequenas propriedades têm um potencial a ser maturado. Na opinião do especialista, a agricultura convencional praticada nos dias de hoje deixa em segundo plano a conservação do meio ambiente e a qualidade nutricional dos alimentos. “É quando a contrapartida do Poder público torna-se fundamental para colocar em prática conceitos agroecológicos em sintonia com os fatores sociais”, destaca.
A aplicação de técnicas agrícolas menos agressivas ao ambiente – tal como a adubação orgânica, o uso de defensivos naturais e a combinação e rotação de culturas –, passaram a ser experimentadas e adotadas no Pará nas últimas décadas quando houve um maior incentivo à capacitação do produtor rural no Brasil.
“Foram muitos cursos de capacitação e análises de projetos. Agora, podemos observar a diversificação produtiva e festejar os bons resultados. A meta não é apenas ensinar, mas também aprender com os produtores”, informa Cleide Amorim, engenheira agrônoma da gerência de floricultura e oleicultura e plantas medicinais da Secretaria de Estado de Agricultura do Pará, Sagri.
Raimundo Ribeiro esclarece que cerca de cem produtores assistidos pela Emater vivem exclusivamente da produção agroecológica e outras dezenas estão em fase de capacitação no Estado. “Conhecer e quantificar a produção agroecológica é fundamental para o progresso de qualquer investimento neste segmento. O objetivo da Emater é orientar os agricultores segundo os conceitos de sustentabilidade, agregando valor ao conhecimento tradicional herdado pelos trabalhadores do campo”, destaca.
Por ser relativamente jovem, a prática da agroecologia ainda está em fase de consolidação. O Pará ainda não dispõe de uma estimativa concreta do número de trabalhadores rurais que adotam práticas agroecológicas. “Aos poucos, vamos fazendo um mapeamento a produção agroecológica. A conclusão do Censo Agropecuário vai nos ajudar bastante”, informa a Sagri.
É comum esses produtores trabalharem com várias culturas geralmente para consumo familiar. “O objetivo é orientá-los para ampliar a produção e, conseqüentemente, inseri-los no mercado de forma mais competitiva”, explica Raimundo Ribeiro.
Foi o que aconteceu com produtor Moacir de Jesus Gomes Nunes, 53, também morador do município de São Domingos do Capim. Uma das providências tomadas pela Emater para melhorar a produção dele foi auxiliar a instalação de uma variedade mais resistente da mandioca. Isso aumentou a lucratividade do produto final.
“Minha experiência foi bem-sucedida. Fiz um curso em Alagoas e na Bahia com o apoio da Emater. Aprendi a adicionar saber e cor ao bejú que faço há anos”, comemora. Em sua propriedade de 43 hectares, Moacir cultiva subprodutos da mandioca e faz colheita regular de frutos e cria aves para abate. “A farinha tem clientela certa assim como minhas frutas e legumes”, detalha o agricultor.
Agroecologia – A relação entre a agricultura familiar e o mercado depende de um conjunto de fatores sócio-econômicos, políticos e culturais. Como torná-la harmoniosa é uma discussão relativamente recente. Ganhou visibilidade durante a realização da Eco 92, no Rio de Janeiro, quando foram lançadas as bases para um desenvolvimento sustentável no planeta. Atualmente, é entendido como um conjunto de técnicas que tem no uso racional dos recursos naturais seu principal princípio.
A rigor, pode-se dizer que a agroecologia é a base científico-tecnológica para uma agricultura sustentável. Seus conceitos aliam conhecimentos científicos e empíricos herdados pelos agricultores. Segundo especialistas, a produção agroecológica cresce no mundo a uma taxa de 20 a 30% ao ano.
No Brasil, segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o comércio nacional de agroecológicos atinge mais de 150 milhões de dólares em uma área plantada de mais ou menos 25 mil hectares. A produção total de agroecológicos representa 2% da produção agrícola brasileira e cresce ano após ano.
No Pará, há oito ou dez anos não havia mais do que algumas poucas dezenas de grupos ou associações de produtores agrícolas. Em 2008, de acordo com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Pará - Fetagri, já existem 143 associações de produtores familiares fora produtores e empreendimentos isolados em várias regiões do Estado.
Potencial – De 26 a 29 de junho, Belém será sede do Frutal Amazônia e Flor Pará 2008. Os eventos são considerados as vitrines da fruticultura e produção de flores no Estado. Técnicos, produtores rurais e empresários de várias partes do país vão participar.
Os empreendimentos devem superar a marca de R$ 40 milhões registrada no ano passado. A programação inclui seminários, exposições, palestras técnicas, oficinas e rodada de negócios. Serão cerca de 300 estandes distribuídos em toda a extensão do Hangar. No ano passado, o Frutal Amazônia e o Flor Pará atraíram mais de 32 mil visitantes.
De acordo com a Sagri, nos últimos 03 anos, a fruticultura paraense apresentou um crescimento médio de 10% a 15% nas principais culturas. Açaí, abacaxi, cacau, cupuaçu e banana são destaques.
A área plantada passou de 226.376 hectares em 2006 para 238.712 hectares em 2007. As regiões que mais se destacam na produção de frutas são o Baixo-Tocantins e o nordeste paraense.
Na área da floricultura trabalham hoje cerca de 120 produtores, 44% oriundos da agricultura familiar. A atividade gera uma receita anual de R$ 41,7 milhões. A área cultivada passou de 188 hectares em 2005 para 274,63 hectares em 2007.
Incentivos – A consolidação de um novo modelo de produção baseado no desenvolvimento sustentável, livre de agrotóxicos e com produtos naturais, ganhou força este ano com o anúncio de um investimento recorde de R$ 12 bilhões disponibilizado pelo Plano Safra da Agricultura Familiar 2007/2008. No Pará, cinco Territórios da Cidadania receberão R$ 1,2 bilhão. Ao todo, 57 municípios paraenses serão beneficiados, melhorando a vida de famílias agricultoras, pescadoras, extrativistas, ribeirinhas, comunidades quilombolas e indígenas.
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